segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Hi5 e as Pessoas-Local

Quase todos os dias faço uma visita ao meu lugarzito no Hi5, gosto de ver as adições de fotografias e amigos, visitas ao meu perfil, mensagens, e essas tretas todas que vão animando aquela imensa base de dados das 'gentes' de todo o mundo. O Hi5 é ainda um bom modo de conhecer o que as pessoas tomam como bom ou mau, já que é lá que expõem o que acham que devem expor, que decidem o que é bom dar a conhecer ou não e consequentemente o que é favorável ou não para este pedaço da sua identidade, que não está presente bem numa base de dados, como aquelas chatas que devem existir no estado ou aquela do programa de facturação. Nada disso, o hi5 é encarado como um universo digital de relações e posição social, qual base de dados qual quê!

Bom, mas independentemente do que acho que os outros acham do Hi5, não consigo perceber esta proliferação recente, já que tenho tomado consciência dela nos últimos dias, daqueles seres que fazem questão que não se possa ver as informações que introduziu na base de dados. Mas afinal de contas por que razão é que quiseram fazer parte dela? Ora se eu não conhecer o cão, gato ou pintura e personagens favoritos de alguém que já não vejo há uns anos - isto porque é raro olhar para a foto que aparece na nossa indexação à base de dados e reconhecer alguém - como é que sei que X ou Y são a pessoa que procuro? Não percebo também porque numa sistema como o hi5 que tem como fundamento a partilha e ligação de amigos e conhecidos a outros amigos e outros conhecidos, existe a necessidade de bloquear outras pessoas de verem o nosso perfil e consequentemente de encontrar pessoas que poderiamos conhecer ou querer conhecer e assim consecutivamente.

Acho que essas coisas que vão abundando por lá, devem querer expressar uma atitude semelhante aos locais de entrada reservada, que têm uma placa enorme a dizer 'proibida a entrada' ou algo de género, que de facto pode ser qualquer coisa desde que siga o "conceito" de numa forma ou outra querer fazer questão de dizer que é importante, de forçar a ideia que se é mais que qualquer outra coisa.

Acho até que essas entidades que habitam o Hi5, querem ser outra coisa além de pessoas. Já são uma espécie de pessoa-local. Querem ser aquele bar e restaurante que tanto admiram. Querem ser o local que alberga e protege, com o seu acesso reservado, outras pessoas. Ou a casa onde a família retrograda que fecha/prende a filha para que não tenha contacto com nenhum homem (só a levam a passear no seu veículo de luxo, nos 'premium'!). E ainda o local que quer de facto demonstrar que é selecto, ele quer ser selecto onde não faz sentido ser. É o local da piada-retrocesso, aquele tipo de humor que descreve a rapariga 'pouco-virgem' no confessionário, ou o canalizador bruto e másculo no convento. É o argumento num filme pornográfico. E como este, é despropositado, dispar e desnecessário.

Para essas pessoas-locais cujo egoísmo tenta fechar as portas de forma a que não tenha acesso a outras pessoas que podem ser importantes para mim (e que de outra forma não encontro), quando queremos estar isoladamente com os nossos amigos num ambiente só nosso, não andamos para aí a cantar isso para toda a gente, porque é daquele tipo de informação inútil para os 'não participantes'. Se não gostam de partilhar informações e amigos/conhecidos, nem usar isso para encontrar pessoas que já não falam ha muito tempo, o hi5, caso ainda não tenham reparado, não é bem o sitio para vocês. O ICQ, MSN ou qualquer outra rede de género é mais adequado e pelo menos, fazem o favor a toda a gente de não empatar ninguém.

É tão estranho falar sobre isto como seria tentar perceber ou explicar o argumento de um filme pornográfico. Ou não, mas aí já estaríamos na Twilight Zone.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Bares e Tinto Brass

Há pouco vi uma reportagem no canal 6 sobre uma festa qualquer num bar aqui da região. Além de ver alguns conhecidos sem ter que estar com eles e saber o que algumas pessoas com as quais me vou cruzando na rua fazem para ganhar dinheiro, lembrei-me de quando saía à noite, da mancha uniforme e sexual da personagem mulher e das coisas que andam para um lado e para o outro que teimam em continuar a ser a personagem homem. Mas se esta última personagem é deveras interessante, o que queria é falar da personagem feminina, recheada de sinais e apontamentos que, pelo menos a mim e à minha interpretação muito particular dos seus filmes, transportam-me para o universo do sr. Tinto Brass, mas em vez de ser em Itália é aqui mesmo, "perto de si" e com uma estética local. A ênfase ao traseiro bem como outros indícios físicos e indumentárias que nos levam numa viajem-fantasia sobre o corpo nu das mesmas e de uma série de visões sobre experiências sexuais, de que gostaríamos nós (ou eu!), tivessem lugar num contexto igual ao dos filmes. De facto esta viagem pode levar-nos (estou aqui a usar o plural para desviar uma bocado as culpas de mim mesmo :P) a outros universos, lembro-me por exemplo de Larry Clark e Walerian Borowczyk, mas não sei bem porque, tenho sempre mais vivas as imagens que dos trás o Sr.Tintol.
Contudo não é preciso muita interacção com essas personagens da mulher e homem, para perceber que o sexo para eles é mais do género do que se vê nos reality shows e nos filmes porno da treta que abundam hoje em dia. Parece ser ainda fechado a um parceiro que se pretende fixo ou mais ou menos fixo, e pior que isso, limitado a gestos que são interpretados em forma de manual, e que chegam até nós por intermédio de telenovelas, filmes de 'amores' que passam na tv aos fins-de-semana ou no cinema e ainda preconceitos incutidos, pelo que vejo, maioritariamente por aquele conjunto de pessoas que se denomina de família.
Para a personagem da mulher e do homem que habita os bares, pelo menos aqui da região (que são os que conheço melhor), tem apenas uma forma e infelizmente para eles não vem já com banda sonora. Até nem é bem sexo enquanto prazer, é mais uma questão de controlo e imagem social, é para a personagem mulher ter algo, mais concretamente um problema comum ( = os homens só querem e pensam em sexo), com as outras personagens do mesmo género. Assim vai-se toda a gente identificando e mantêm pelo menos uma ressonância que os une.
Vendo as coisas assim, mesmo sabendo que não são sempre assim, prefiro voltar a fantasiar sobre o universo do sr. Tinto Brass.